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Porque a rotina importa...


Que a rotina estável e coerente é fundamental para um crescimento harmonioso, claramente relacionada com o bem estar, saúde e desenvolvimento emocional e cognitivo de cada um de nós, e das crianças em especial, é um facto comummente conhecido e aceite.

Contudo, afinal o que é isto das rotinas, tão referidas e sublinhadas atualmente? Rotinas não são mais do que hábitos, ações e gestos repetidos ciclicamente ao longo dos dias. Se atentarmos bem no nosso quotidiano, reparamos que, de fato, o dia a dia está repleto de atividades, momentos, períodos, até expressões, repetidas que fazem já parte da vida, não fazendo sentido não estarem presentes e que estranharíamos se alguma vez deixassem de aparecer (como aliás, tivemos oportunidade de experienciar no momento conturbado que vivemos). Uma rotina é um plano, uma estrutura do dia a dia, uma espécie de mapa que nos ajuda a “encaixar” tudo o que temos e gostamos de fazer na nossa vida quotidianamente. Para além de ser extremamente organizador, permite que nos mantenhamos focados nas prioridades, gerir o o que falta fazer, encontrar espaço para o trabalho e para o lazer, ganhar tempo, tornando mais previsível e, portanto, mais seguro, o enquadramento de qualquer novidade que naturalmente poderá ir surgindo.


No contexto do desenvolvimento infantil, a importância das rotinas ganha ainda mais expressão. De fato, as crianças sentem-se mais seguras quando o dia a dia é previsível. Quando o adulto consegue promover um ambiente seguro, a criança aprende que pode confiar no seu meio e nos outros para tomarem conta de si e para satisfazerem as suas necessidades, sentindo-se, assim, mais tranquilas e descontraídas para poder explorar o seu mundo e, consequentemente, aprender a ser e a estar. Uma rotina bem estabelecida confere estabilidade à criança – a sua ainda curta disponibilização da atenção, associada a todas as competências e aprendizagens que adquire nos primeiros anos de vida significam que que se podem sentir frequentemente sobrestimuladas, sentindo-se por vezes incapazes de cooperar e de se organizar – estruturar o dia permite à criança sentir-se mais segura por saber o que se vai passar em cada parte do dia. O “antes” e o “depois” podem ser especialmente importantes uma vez que a concepção de tempo é ainda algo limitada nas crianças, sendo-lhes mais fácil organizar o seu dia por eventos, acontecimentos ou momentos, do que propriamente por horas e minutos. As rotinas ajudam também a criança a desenvolver uma maior capacidade de auto-controlo, uma vez que aprendem que têm de esperar um determinado tempo para realizar uma qualquer atividade. Desenvolvem também um sentido de autonomia e de independência permitindo à criança desenvolver cada vez mais atividades sem precisar sempre da ajuda do adulto.


A rotina assume especial importância em alguns momentos mais difíceis do dia, tais como a hora de dormir, acordar ou vestir-se de manhã, ou ainda outros momentos de transição. Quando existe uma rotina estabelecida, existe menos espaço para argumentos ou discussões, uma vez que as expectativas em relação a determinado comportamento são tomadas como garantidas, reduzindo também o stress associado a estes momentos. A construção de uma rotina pode começar pela seleção de prioridades, pela criação de momentos que a família pretende que existam no seu dia, como:


- Ter, pelo menos, uma refeição em família (pode até ser o pequeno almoço) e criar uma série de hábitos em redor deste momento, desde não atender a porta ou o telefone durante a refeição, partilha de expectativas para o dia, distribuir funções para colocar a mesa pronta para a refeição, não acender a televisão, ou verem em conjunto um programa do agrado de todos,...


- Criar um ritual de hora de dormir, definindo o que se faz antes e depois, contar uma história, falar sobre o dia e o que mais se gostou de fazer (simultaneamente a criança está a desenvolver a linguagem, a expressão, a memória, a noção de sequência temporal, entre outras competências).


- Incluir “facilitadores de transições”, isto é, avisar que daí a 10 minutos se vão começar a preparar para ir para a cama e que é altura de vestir o pijama, ou explicar que a criança pode terminar a brincadeira em 5 minutos para depois irem lavar as mãos e ir jantar.


- Criar em conjunto estímulos visuais que possam ajudar na implementação dos vários passos da rotina, tais como cartões com imagens que ilustrem o pequeno almoço, lavar os dentes, higiene, etc, para a rotina da manhã, por exemplo.


Como com qualquer regra, também deve haver excepção e é muito importante que as rotinas não sejam demasiado rígidas. Na realidade uma da funções das rotinas é salvaguardar espaços para novidades e imprevistos. Estar demasiado dependente de uma rotina pode ser tão prejudicial como não a ter de todo – se não existe espaço para alterar, mudar e sair da rotina, qualquer imprevisto ou novidade pode ser facilmente interpretado como uma ameaça, gerando grande insegurança. As mudanças devem ser tratadas com naturalidade e conversadas com a criança - “costumamos fazer x, mas hoje vamos fazer y porque...”, “a forma como temos feito x não está a resultar, por isso a partir de hoje vamos fazer y”.


Construir uma rotina leva certamente o seu tempo. A estrutura diária do quotidiano de cada família deve ser construída pela própria família. Pode ter em conta opiniões de familiares, especialistas, livros, “com conta, peso e medida”, pois deve basear-se fundamentalmente nas necessidades e características dos seus membros. A informação exterior é sempre bem vinda, mas sempre sujeita a um juízo crítico e a uma adaptação à realidade concreta de cada criança e de cada família. A comparação é inevitável, mas é importante deixar prevalecer a confiança que cada mãe/pai tem nas suas competências enquanto cuidador e na sua capacidade de ponderar decisões em relação ao que é melhor para os seus filhos, mantendo, como é obvio, toda a abertura possível à ajuda e apoio que possam obter.

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