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“COMO É QUE TE POSSO AJUDAR?” A Disponibilidade Emocional através da Comunicação

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    clinicadasein
  • há 11 minutos
  • 3 min de leitura

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Vivemos numa época em que tudo acontece depressa: reagimos depressa, decidimos depressa, respondemos depressa, “impacientamo-nos” depressa. Esta velocidade infiltra-se, naturalmente, também nas relações e torna-se muitas vezes nociva quando alguém nos procura num momento de fragilidade. Sem darmos conta, a nossa primeira tendência é agir em vez de escutar.

Tentamos aliviar, resolver, corrigir, antecipar. Chamamos a isso “ajudar”, mas, na prática, estamos a tentar retirar de cena o desconforto antes de compreender o que está a acontecer.

Mas que desconforto é este?

A verdade é que muitas vezes, esse desconforto é o nosso. 

 

Ficar diante da vulnerabilidade do outro confronta-nos com a nossa, e quanto mais significativa é a relação, maior a urgência que temos em aliviar o suposto mal-estar, confundindo muitas vezes ajudar com encontrar respostas ou soluções. Mas, quase sempre, o outro não precisa de uma solução imediata, precisa de sentir que tem lugar para aquilo que vive.

 

Se alguém nos procura em sofrimento e nós respondemos logo de forma racionalizada (“isso vai passar”, “pensa positivo”) ou relativizadora/minimizadora (“não te preocupes, não é assim tão grave”), a nossa intenção é boa, mas o efeito pode ser o oposto: a pessoa não se sente vista nem ouvida. A mensagem que chega não é “não estás sozinho, estou contigo”, mas “não devias sentir isto”.

 

E quando as emoções não encontram espaço, o corpo “desliga”: fechamo-nos, evitamos, afastamo-nos ou, em alguns casos, aumentamos a intensidade emocional ou criamos conflito para tentar ser reconhecidos. A ciência mostra-nos que, quando uma emoção é reconhecida, o corpo tende a acalmar-se. E só depois surge a disponibilidade para refletir, integrar e agir.


Muitos de nós não validamos porque acreditamos (mesmo sem verbalizar ou até sem nos darmos conta) que validar é “dar razão” ao outro ou reforçar o seu mal-estar. E a validação não é concordância, é sintonização: é estar com o outro, mesmo que não compreendamos tudo ou ainda não saibamos o que fazer.

 

Estar com o outro, escutá-lo, não é apenas ficar calado à espera da nossa vez de falar. Não é aconselhar, nem “arrumar” rapidamente o que é desconfortável.


É tolerar a emoção do outro sem tentar suavizá-la.


É um gesto relacional, não intelectual.

Comentários como “não penses nisso”, “tens de reagir” ou “isso não é nada” soam a apoio, mas fecham o espaço da emoção. O acolhimento, pelo contrário, nasce de respostas simples:

“Consigo perceber que isto te está a custar.”

“Conta-me melhor.”

“Quero tentar perceber primeiro, antes de pensarmos o que fazer.” 

 

A pergunta que é capaz de mudar a relação


Às vezes, basta um pequeno desvio na forma como nos aproximamos do outro.

Para quebrarmos o impulso automático de “resolver”, e, em vez de assumirmos que sabemos do que é que o outro precisa, podemos simplesmente perguntar:


“Como é que te posso ajudar melhor?”

(e, se fizer sentido: “Queres que eu ouça apenas, que pensemos juntos, ou que te dê sugestões?”).

 

Este tipo de pergunta muda o foco: dá ao outro o seu lugar, devolve-lhe o direito de escolher o que precisa e permite-nos estar verdadeiramente presentes. No fundo, não se trata de ter a resposta certa, mas de criar um espaço onde a emoção possa existir sem pressa.  É este tipo de postura na comunicação que torna a relação um espaço seguro.


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Inês Carpinteiro, Psicóloga Clínica

 
 
 

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